A vegetariana

Autoria: Han Kang 
Tradução: Jae Hyung Woo 
Editora: Todavia 
Publicado em 2018 
N de páginas: 176 


Prêmio Nobel da Literatura 2024, o livro conta a história de uma mulher que resolveu tornar-se vegetariana radicalmente, de uma hora para outra, não por filosofia ou espiritualidade mas... Bom, ela tinha sonhos perturbadores, todas as noites, que não a deixavam dormir. Pensa-se que seria sobre as dificuldades de aderir a esse estilo de vida quando ainda se propagava aos poucos a ideia de que se poderia viver sem consumo do que fosse de origem animal. 

Ah, se fosse apenas isso!... Jogar fora, retirar alimentos da geladeira e dos armários da cozinha, desfazer-se dos sapatos de couro... Não esperava o que encontrei. Na verdade, foi certa inocência minha, que já li outros livros, mangás, que trazem um pouco da cultura e pensamento oriental, assisti filmes e k-dramas (doramas). Já no início despertou em mim raiva. A pequenez do marido, o que pensava, como agia... Ele dissertando sobre o porquê de a ter escolhido. Triste. Indigno. 

Então, o cunhado. Aff! Um detalhe e ele fica com pensamento fixo - nada falarei do detalhe para que durante a leitura tenha seus próprios pensamentos e reações. O pensamento também ficará a ser descoberto ao correr da narrativa, dividida em três partes: a vegetariana e a vida que levava, a torpe visão do marido e reação da família quanto a decisão da Yeonghye; a "visão" do cunhado,  o que faz, até onde vai; a irmã da vegetariana... 

Em meio a vida sofrida da vegetariana, as negligência de lados... Não ter com quem falar de pensamentos, sentimentos, seus pesadelos. Até onde "aguentar". A cereja veio com a terceira parte, onde não apenas a irmã retrocede em lembranças e questionamentos, acerca da irmã e de si, da criação e perdas - dentre maiores as internas. Todos temos momentos de reflexão e questionamentos - até onde realmente vivemos, até onde cumprimos papeis representando n/a vida? 
"De repente, se deu conta de que nunca tinha vivido e ficou surpresa. Era verdade. Não tinha vivido de fato. Desde o tempo remoto da infância, tudo o que ela fizera foi aguentar."
Ao mesmo tempo que o texto é simples, direto, curto, a leitura fluida demora mais que o esperado por, justamente, fazer-nos pensar, sentir. Rebelamo-nos? Aceitamos? Transcendemos? Até onde seguimos cada um, todos os dias?... Quando realmente nos colocamos ao dizermos "não"? Quem nos ouve? Ouvimo-nos? O que nos move e quando parar? Enxergamos?

Parou? Parará? 
Sente-se, se preferir, deite. 
Sinta. Respire. Pause.
E, certamente,
Leia.


Um abraço,
Carolina.



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Livro escolhido do Clube de Livro da Livraria Leitura do shopping da Bahia, reunião de maio.

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