Um milênio para amanhecer

Autora: Anne Venditti
Editora: Giostrio
Publicado em 2017
N° de páginas: 256

"Uma vida marcada pela humilhação e pela infelicidade. Podemos resumir assim a trajetória de Marvin DeMoore, homem de modos nada corteses, rude, seco, policial da Califórnia. De origem inglesa, filho de uma prostituta, poucos amigos, Marvin se vê metido numa rede de intrigas perigosas ao se envolver com Jaak, filha de um poderoso magnata da tecnologia com a falecida Laura, que possuía problemas psiquiátricos."
Há momentos e momentos... E tentei inicialmente o embarque sem o cartão de acesso à plataforma. Mas, após "adquirir" ele e passar pela catraca... Adentrei. Horas voaram. Visitei hospital psiquiátrico, mansão, Hollywood Park City, Inglaterra, retornei à Califórnia e não consegui fechar os olhos para as cenas que me eram apresentadas. Como eu poderia dormir se o Marvin precisava de ajuda sem pedir?!?...

Todos nós somos complexos em nossas singularidades. Mas quando experiências somam... traumas... Como diria o Dr. House do seriado: Todos Mentem.

Marvin DeMoore. Belo, irônico, charmoso... pavio curto e uma história cheia de vírgulas. Quantas não foram as vezes as quais eu tive vontade de o confortar! Torci, de início, que a presença e olhar que tranquiliza e transmite bem estar do dr. Eric Adams o conseguisse ajudar!... Entendam: a maioria das personagens tem muito a contar... Narrador ajuda, mas há muito. O doutor, inclusive, tem a sua história mas tal dom com o qual nasceu não foi o suficiente. 

Com 5 anos de idade, com mãos dadas com a melhor amiga Clara Pellegrini, Marvin "deixa escapar", envergonhado, para o padrinho, Eric, que o "amigo" da mãe (Grazielle, prostituta), o McMegory, diz a palavra "tesão" baixo, antes de subirem para o quarto dela e pedir que ela leve o filho junto...
"Ele me pede para ficar lá e fazer tudo o que ele pedir - disse o menino, desviando o olhar. - Ele me diz... - e abaixou um pouco o tom de voz. - ... que se eu não ficar lá, ele vai fazer a mamãe sofrer muito, daí ela vai chorar. Eu não gosto quando ela chora, me dá dó." - p.18-9
Tal "confissão" ocorre no dia anterior ao retorno deles dois, mãe e filho, para a Inglaterra. Desde quando ocorre? Parece ser tempo demais...

Marvin não sabe, nunca soube, quem é seu pai. Não que a mãe desconheça a identidade. Um algo a mais a pensar - ou não - enquanto se lê, conhece (pensa conhecer), tenta desvendar... Todos, em algum momento, fazem-nos suspeitar... Quem quer incriminar esse lutador e por quê?

Você se perdeu? Rs. Ele, diversas vezes, também - e afirmou estar enlouquecendo. Não foi apenas esse momento na vida dele que deixou suas marcas. Ir para a Inglaterra não o eximiu das duas visitas anuais do McMegory ou do demais que passa durante os anos com a mãe e seus clientes. O sr. Adams envia a Clara para ele alguns anos depois. Porém, apesar da companhia que tanto ama e o conforta, tem que a proteger dos clientes da mãe. Já com idade para faculdade, Eric Adams os traz de volta para os EUA e Marvin procura seu carrasco para que o treine. Dez meses, exaustão física, fome, ótima mira!.. E vai embora. Forma-se em direito, sem se esforçar em aprender.

Hoje Marvin - bang-bang! - é policial subalterno do McMegory, não cumpre horário, enche o saco!.. rs. Máscara. Há algo que não podem saber. 

O que foi? Pensam que dei muito spoiler?!? Parece, não parece? SQN! (Só que não!) Jaak Jean Lewis aparece na cidade, usando outro nome.

Jaak Jean foi concebida em 1978, após três anos e meio de relacionamento entre o Eliot e a Laura. Eles se conheceram na saída da ala D do hospital psiquiátrico no qual ele foi visitar a tia. A partir dali, ele a visitou toda 5a. feira até ela sair, aos 20 anos e, com autorização do pai dela, eles se casaram. Com a mãe esquizofrênica ela aprendeu a tocar violino e piano, e herdou a boa intuição, detectando pontos fracos nos outros. Aos dezenove anos "ganhou" um irmão, o Ludwig, a mãe piora, morre. Há um plot... Ela avisa ao pai que está indo embora e que leva o irmão consigo.

Jaak conhece alguns moradores da cidade assim que nela chega, mas acaba na casa do Marvin com o irmão. É lá que pede abrigo e, mesmo dando nome falso, Marvin sabe quem ela e o irmão são: Lewis. Mas não dirá aos outros.

Daí, sim! Não posso falar muito mais. Digo que ele passa por muito, tem a sanidade questionada por si e pelos outros, descobrimos o que ele faz que não pode vir a público, conhecemos a Clara adulta, muita picuinha... muita armação. Tiros, tentativas de incriminar o Marvin a toda hora. Desconfiei de quase todos. Mortes. Marvin conhece o Eliot por telefone... por causa dos "doces" que encontra com a Jaak, agora grávida.

O livro é dividido em quatro partes com detalhes em preto e branco das fitas criminais e os detalhes finais com as digitais, como na capa, dá certo "charme" - rs. As páginas são amareladas, tão confortáveis que li dentro do ônibus, realmente, como disse acima. Digo que fui surpreendida, tomada como refém desta história, e liberada ao seu término.

Superindico! A Anne Venditti, autora brasileira, conseguiu me "arrancar" de onde estava para seguir junto às suas personagens!
(E que desfecho!)


Um abraço,
Carolina.

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