O doador (O doador de memórias)

Autora: Lois Lowry
(The Giver)
Editora: Sextante
Publicado em: 2009
N° de páginas: 192

Republicado como O doador de memórias pela Arqueiro em 2014. 
"Os habitantes da pequena comunidade, satisfeitos com suas vidas ordenadas, pacatas e estáveis, conhecem apenas o agora - o passado e todas as lembranças do antigo mundo foram apagados de suas mentes. Uma única pessoa é encarregada de ser o guardião dessas memórias, com o objetivo de proteger o povo do sofrimento e, ao mesmo tempo, ter a sabedoria necessária para orientar os dirigentes da sociedade em momentos difíceis. Aos 12 anos, idade em que toda criança é designada à profissão que irá seguir, Jonas recebe a honra de se tornar o próximo guardião. Ele é avisado de que precisará passar por um treinamento difícil, que exigirá coragem, disciplina e muita força, mas não faz idéia de que seu mundo nunca mais será o mesmo. Orientado pelo velho Doador, Jonas descobre pouco a pouco o universo extraordinário que lhe fora roubado. Como uma névoa que vai se dissipando, a terrível realidade por trás daquela utopia começa a se revelar."

Como seria viver na Mesmice?... 

Numa comunidade pacata, com regras acatadas ou, quando não...

 “O castigo, usado para crianças pequenas era um sistema oficial de varadas com a vara disciplinar: uma arma fina e flexível que, quando utilizada, causava dor aguda na criança.” - p.58
Desde muito pequenos...
Behaviorismo?... Condicionamento?...

Mas, Carol, as coisas funcionam!.. De certo, funcionam. O próprio Jonas ressalta por diversas vezes. Você acorda, compartilha seus sonhos, se tiver sonhado, toma a sua injeção, ingere sua pílula – se já passou pelo “Atiçamento” –, sai para a sua jornada diária, produz, retorna, compartilha seus sentimentos do dia... Sempre com muita precisão de linguagem!

Sim, sem dores, sem angústias, sem problemas de relacionamento, sem morte... Nada “negativo”! Seria um sonho?!... Mas, também, sem cores, sem mudanças climáticas (atrapalham a produção), sem sentimentos... Sem alegrias genuínas... felicidade...


Não se mente. (?)

Há apenas o agora. Nada de história, memórias são apenas para o Recebedor.

O “Atiçamento” mencionado acima, fisiológico e natural é controlado com as tais pílulas, que são ingeridas até que se entre na Casa dos Idosos. Para se formar família, tem-se que requerer um cônjuge e aguardar a aprovação ou não pelo Conselho de Anciãos. Filhos? Requisição, e pode ser negado pelo Conselho.

Mas, se não há “atiçamentos” ou sentimentos...

Crianças??..

Há dentre as atribuições a de “mãe biológica”. Três partos e, depois, outra atribuição lhe é dada.

Cerimônias anuais. Dois dias. Nelas, “celebra-se” o ano de vida, crianças novas são entregues pelos Criadores, “promove-se” as criança para o ano seguinte... A atribuição de funções ocorre aos doze, quando se torna um adulto novo e aprendiz da função que exercerá.

Alguém se questionou quanto a quem é o Jonas, citado acima?...

Jonas não tem uma função atribuída ao completar 12 anos. Ele é selecionado como o novo Recebedor de Memórias. E ser o Recebedor de Memórias é grande honraria...

Há apenas um Recebedor na comunidade. Então, quando o Jonas se torna o Recebedor, o existente se torna o Doador.

Qualidades necessárias:

  • ·        Inteligência
  • ·        Integridade
  • ·        Coragem
  • ·        Sabedoria

“A aquisição de sabedoria virá através do seu treinamento.” - p.67

  • ·        Capacidade de Ver Além.

Alguns pontos da folha de papel impressa na pasta do Jonas: ele pode desobedecer as regras referentes à cortesia, fazendo perguntas (e recebendo as devidas respostas), não pode relatar treinamento ou sonhos, não deve solicitar remédio para coisa alguma relacionada ao treinamento, está proibido de pedir dispensa e pode mentir. WOW!

Há dores reais no ofício do Recebedor... Há dias em que o Doador o dispensa...

 “Mas por que todo mundo não pode ter as lembranças? Acho que seria um pouco mais fácil se as lembranças pudessem ser partilhadas. O senhor e eu não teríamos que suportar tanta coisa sozinhos se todas as outras pessoas assumissem uma parte disso.” - p.117
A razão de ser do Recebedor é tirar tal fardo da população, bem como ter a sabedoria proveniente das memórias para aconselhar quando necessário, em momentos difíceis.

Jonas vive as memórias passadas. As de dor... As de alegria genuína. Ele descobre o que é Família, o que é Amor, (para de ingerir pílulas) o que são Sentimentos... Ele descobre o real significado da Dispensa através de uma realizada pelo próprio pai, de um recém-nascido gêmeo... Os idosos, após estadia na Casa deles, também “dispensados”... Não tem consciência do que está sendo feito... do que fazem. 

 “Tenho muito amor por você Jonas. (...) Quando meu trabalho aqui terminar, quero ficar com a minha filha.” - p.167
(Rosemary, dispensada há 10 anos... Foi uma Recebedora que não aguentou Perda na memória dada pelo Doador...)

Amor... “uma palavra tão sem sentido que já se tornou quase obsoleta.” - p.132

Plano. Jonas parte, o Doador fica. Gabriel é levado. A criança seria dispensada após quase um ano de convívio com sua família. Mudança de planos – Jonas não pode permitir que Gabe seja morto!

Provações... Fuga de aviões de busca... Fome... Frio... Alento proporcionado pelas memórias de calor e fartura partilhadas com o Gabriel, cada vez mais escasso... Mas Jonas sente, sabe!

“... teve certeza, cheio de alegria, que lá embaixo, lá adiante, esperavam por ele, e que esperavam pela criança.” - p.184

Qual a pílula que escolheria: a azul ou a vermelha?...


Voltar ao mundo que lhe foi provido ou ver e sentir a realidade?... 




Um abraço,
Carolina.

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