Senhor das moscas

Autor: William Golding
Editora: Alfaguara
Publicado em 2021
N de páginas: 216


Lembro que no carnaval eram usadas máscaras, pois com elas as pessoas se sentiam mais livres para extravasar vontades e fantasias... Não, nesta leitura não encontramos tais tipos de fantasias, mas instintos... aqueles suprimidos pela vida em sociedade, normas, regras. Os meninos se entregam a selvageria, "guiados" por aquele que queria, desde o início, ser o "chefe" - e terminou por sucumbir a sua parte sombria.

Buscando digerir... Há certa inveja, um tanto de "dor de cotovelo", afinal ao se verem sobreviventes de acidente, Jack se sentiu preterido ao ver Ralph sendo eleito o líder do grupo. Na verdade, o mais racional é o que chamavam de Porquinho - único apelido pelo qual o garoto disse não querer ser chamado! Seu nome preterido a aparência, por estar acima do peso. Sabemos que crianças sabem ser cruéis... 

Simon se destaca também, por ser diferente, é um tanto incompreendido. Ele tem algo que eu não soube identificar com uma primeira leitura, talvez em releitura posterior... Em dado momento, além de ser intitulado "estranho", quando sozinho, tem um "episódio" em esconderijo que guardou para si, para onde por vezes "fugia". Ele era sensato. Quando tentava falar por vezes não era levado a sério, então falava pouco. Buscando logicidade, investigou o local onde assumiram ter visto um monstro, por exemplo.

Ambos os racionais, um enfraquecido pelas vistas, asma, compleição; outro pela incompreensão da personalidade, são assassinados pelos selvagens liderados por aquele que sempre quis o poder, apoiado por diversos pintados/mascarados, tendo Roger como feroz carrasco (segundo o medo demonstrado pelos gêmeos Samineric (Sam e Eric). Ostracismo - contudo não foram banidos, mas eliminados. E aquele que os ouvia por vezes, o líder, Ralph, é perseguido em dado momento, ferozmente, pelos "selvagens" - irracionalidade. 

As crianças menores (cerca de seis anos de idade) eram excluídas da "guerrilha", vivendo em seu mundo particular, brincando, tendo pesadelos, presas em seus devaneios, alheias a guerra que se instaura aos poucos. Crianças maiores "escolhendo lados"... Jack oferece uma liberdade "sem limites" contanto que seja do tipo "o mestre mandou", sendo ele o mestre. Ralph solicita certa ordem para a convivência e que o fogo fique sempre aceso para sinalizar para qualquer navio que passasse, para que fossem resgatados e retornassem aos seus lares. 

Uma observação do Porquinho não é levada muito a sério inicialmente pelo Ralph, mas aos poucos... Por que o Jack tem raiva sele? Teria certa insegurança?... Conversei um pouco com a dra. L., sobre o muito que poderia ser abordado aqui. Desde a barbárie (condição daquilo que é selvagem, cruel, desumano e grosseiro - ações de extrema violência e agressividade) em si, ao estado de transe invocado pela repetição de palavras "cantadas" ritualisticamente que os leva até mesmo a ignorar a realidade dos próprios atos. 

"Mata o porco! Corta a goela! Mata o porco! Cai de pau!" p.123
"Mata o monstro! Corta a goela! Espalha o sangue!" p.162-3

Não apenas a porca é morta - aliás, em um grande bando pegaram a que tinha tido crias recentemente, a que amamentava os filhotes. Oferenda em estaca, corpo levado pela maré subindo e descendo, fogo ateado para coagir, cercar, "pega! corta! mata!" Frenesi... Desvario... Muito a. 

Convido-@s a ler, conhecer, interpretar, explorar a ilha e suas personagens! 
Há frutas diversas, há porcos, caso queira caçar.
Não seja caçado.


Um abraço,
Carolina.

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