Uma proposta indecente

Autora: Emma Wildes
Editora: Cherish Books Br
Publicado em: 2019
No. de páginas: 400

"É a maior fofoca da cidade! Em um momento de embriaguez, dois dos maiores libertinos de Londres - o Conde de Manderville e o Duque de Rothay— estabelecem uma aposta pública, onde querem descobrir qual dos dois é o melhor amante. Mas qual mulher bela, inteligente e de discernimento consentiria ir para cama com dois homens e declarar qual deles é o mais hábil em satisfazer seus desejos mais profundos?
Lady Caroline Wynn é a última mulher que qualquer um esperaria que se oferecesse para tal. A jovem e respeitável viúva decidiu manter-se longe de casamentos. Ela pode até não desejar um novo marido, mas seu breve matrimônio deixou algumas dúvidas escandalosas a respeito da intimidade entre casais.
Se o Conde e o Duque concordarem em manter sua identidade em segredo, ela irá decidir qual dos dois é o mais experiente debaixo dos lençóis. Mas para a surpresa de todos, o que começa como uma proposta indecente pode se tornar uma lição surpreendente a respeito do verdadeiro amor."
Desde sempre, o álcool não é bom "conselheiro"... Rs. Ele e o coração partido de um "libertino". Manderville enche a cara no dia em que o casamento da protegida do seu tio, a Annabel, é anunciado. Sendo amigo de outro famoso libertino que o acompanha no consumo de toda a bebida que conseguem ingerir, surge a aposta/desafio: qual é o melhor amante - no sentido carnal mesmo, e não do "aquele que ama"? Mas... um problema: quem julgaria? 
(Ainda, como agir ao ser atacado por bichinho chamado "sobriedade"? Rs.)

A viúva do sr. Edward, ex-lorde Wynn, teve seu quinhão de sofrimento quando o marido era vivo. Casou-se nova, enviuvou nova: 23 anos de idade, ainda bela mas com fama de fria, distante, recusando todos os pretendentes que a tentam cortejar. O primo do falecido, inclusive, o Franklin, que a aborrece e entedia: inconformado com ter herdado apenas o título e não a fortuna que queria. Ao menos isso o Edward fez por ela: independência financeira. Fora isso...
"Erradicar qualquer coisa que a lembrasse da presença de Edward fora um prazer. Seu marido teria detestado a feminilidade dos pequenos e delicados toques pessoais, mas, até onde ela sabia, ele odiava muitas coisas que não atendessem a seus gostas específicos." [4%]
Obs: Franklin não se assemelha apenas fisicamente ao falecido... Também demonstrou "desgostar" da nova decoração da sala ao visitá-la. (E não apenas isso...)
"Santo Deus, ele parecia tanto com Edward, com aqueles mesmos olhos azuis frios..."
Duque de Rothay e Lorde Manderville, títulos herdados, anos de amizade. O primeiro também passou por seu "inferno particular" (bem diferente do da Caroline, sendo ele homem, enquanto ela, mulher, naquela época...) para se tornar quem se tornou. E os amigos tinham um entendimento, um "acordo mudo" de não falar no assunto...

Como há os eventos pertinentes aos preparativos para o enlace da Annabel Reid com o Lorde Alfred Hyatt, os amigos decidem que o Rothay, Nicholas, será o primeiro a desfrutar da companhia da lady Caroline Wynn, por uma semana ao invés de um dia, já que será necessário "derreter" todo o gelo do qual a pessoa dela é afamada por... ser.

Pior, ela acredita. O marido culpava-a se não gostar das relações conjugais... Daí ela enviar a proposta para ambos os libertinos.
"Era uma suposição lógica que, se ela não se satisfizesse nos braços dos dois amantes mais celebrados de Londres, a culpa seria dela. Até onde sabia, era improvável que se envolvesse com qualquer homem novamente."  [8%]
... Mas a verdade é que ele era abusivo.

E, então, quando viaja para a casa de campo em Essex, Tenderden Manor, Nick conhece outra Caroline. Uma leitora voraz, detentora de intelecto ao qual muitos repudiam, mas ele descobre o fascinar.
"Ele estava acostumado a mulheres bajulando-o, não repreendendo sua má compreensão de sua posição no mundo." [18%]
A franqueza dela, a falta do deliberado flerte e vontade de agradar, ele percebe, o atrai. Ela tem travas que lhe foram incutidas, teme o toque, ele logo percebe a diferença no tremor: não é de antecipação por vontade, mas medo real. O falecido se impunha a ela sem primar por nada além de si e suas vontades. Diminuiu-a. Violentou-a. Fez com que pensasse ser frígida, infértil, "defeituosa".

Aqui, apesar da aposta ter sido o pontapé inicial da história, como insinuado na sinopse, já é o que menos importa. Temos quatro vidas em foco. Vidas moldadas pelas circunstâncias da época, de nomes... Sim, de desentendimentos, medos, fugas. Como o Nicholas disse, desde que aprendeu a falar lhe foi ensinado como agir, falar... seria um duque. Derek e Annabel? Novamente desentendimento, medo, fuga. Ele muito mais velho, ela, protegida do tio... a criança que o seguia e admirava que tornou-se mulher e... droga! Ele não poderia sentir o que sentia!!! Ela merecia mais! 

Caroline não parou de sofrer com a morte do marido. A sociedade machista demanda que ela tenha um homem a tomar as rédeas, por mais que seja independente financeiramente - e o "primo" quer tal lugar, já que a herança lhe foi negada. Também violento e desprezível! Um pai que a negou por ter nascido mulher. Muito triste, real, e jamais imaginaria como seria minha vida passando por isso. 

Quando penso em viver nesta época o faço pelos amores, pelos jardins... não pelo subjugo do sexo masculino sobre o feminino. Nesses tempos onde tudo é: você é ou não feminista, você gosta ou não gosta de homem... Concordo com a Chimamanda quando diz que trata-se de igualdade. Nem mais, nem menos, mas igual. Um relacionamento bom deve-se a igualdade - eu respeito e sou respeitada; dou e recebo atenção, prazer, carinho... Divido, comungo... Caminhar lado a lado.

E estes homens apaixonados nos mostram que podem, sim, passar por cima de tudo o que lhes foi imposto e aceitar suas amadas, permitem-se ajudar e ser ajudados por elas. Este  romance deu voz à quatro pontos de vista, nos permitindo vivenciar cada um deles, diferentes. Sei que foquei mais em um casal que em outro. Como disse meu professor de psicologia quando abordei assunto de amor de mãe, ama-se igual em quantidade, mas não é possível amar igual em qualidade. Amo ambos igualitariamente quantitativamente, mas a empatia com a Caroline, a situação pela qual passou e o que eles construíram apesar de inicialmente ser apenas pela aposta, uma proposta indecente dela de ajuizar, sobrepôs-se. Rs.


Um abraço,
Carolina.

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